Veja análise da estreia do técnico italiano pela Seleção Equador 0 x 0 Brasil | Melhores momentos | 15ª rodada | Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo 2026
Nada do que aconteceu em Guayaquil foi exatamente ruim para a seleção brasileira. Primeiro, pelo ponto ganho diante de um adversário que, neste momento, é mais estruturado. E depois, por golpear a crença nacional na figura do salvador, no milagre praticado pela simples troca de treinador, mesmo que o novo dono do cargo tenha apenas três dias para treinar a equipe.
Porque quando se pensa nos principais problemas que o Brasil enfrentou no 0 a 0 com o Equador, é obrigatório falar da dificuldade para sair de trás contra uma pressão ofensiva, assim como é natural citar a falta de influência dos meio-campistas no jogo, a falta de controle, de alternância de ritmo. Ou seja, todos esses são pontos que já convivem com a seleção brasileira nos últimos anos deste ciclo tão desgovernado desde o fim da Copa do Catar.
Alex revela sentimento após a estreia pela Seleção e brinca sobre imagem com a bandeira: “Gosto de ajudar”
No primeiro jogo sob as ordens de Ancelotti, o Brasil até poderia ter vencido. Nem é exagero dizer que teve duas das melhores ocasiões da partida em contragolpes. No entanto, nada disso seria sinal de que o campo tivesse exibido o esboço de um time reformado, pronto para voos mais altos. Para isso, será preciso trabalho.
Tampouco é justo dizer que a seleção volta do Equador apenas com o ponto do empate. A forma como o time defendeu a área chamou atenção positivamente. E, neste aspecto, Alex, zagueiro do Lille, foi uma daquelas aparições que não parecem passageiras. A sensação é de que seu nome será ouvido em futuras listas e escalações até a Copa do Mundo. Ele ganhou muitos duelos – bem acompanhado por Marquinhos – e, diante da dificuldade de sair jogando da seleção, foi quem mais encontrou passes para fazer o time vencer a pressão adversária.
Ancelotti: “Para os três da frente foi mais complicado que para os outros”
Armado a partir de um 4-3-3, o Brasil tinha alguma dificuldade para evitar que os equatorianos estabelecessem vantagens pelos lados do campo. Beccacece, o argentino que dirige os donos da casa, monta equipes que tornam o campo muito largo, com pontas ou laterais bem abertos. E, especialmente na esquerda, a dobra entre Ângulo e Estupiñan, ótimo lateral do Brighton, criava problemas. Estes só não foram maiores porque Vanderson se posicionou bem e, claro, porque Marquinhos, Alex e Casemiro ganharam muitos duelos na área defendida por Alisson.
Casemiro, aliás, fez o papel que Ancelotti esperava: proteger a defesa, mover-se para coberturas, ordenar o time sem bola. Com ela, no entanto, era natural que fosse menos efetivo para fazer o Brasil sair de trás com passes decisivos. Tanto que, em dado momento, o técnico italiano fez Gérson e Bruno Guimarães recuarem alguns metros, com Casemiro se colocando à frente deles. Não pretendia, naturalmente, que o volante do Manchester United recebesse a bola como um “camisa 10”. A ideia era ter um melhor passe com Gérson e Bruno iniciando os ataques. Ocorre que nenhum deles é exatamente um organizador de jogo. O que não é um defeito especificamente deles, mas da escola brasileira atual.
Ancelotti comanda seleção brasileira diante do Equador
Rodrigo BUENDIA / AFP
O resultado foram atacantes distantes dos meias, recebendo bolas longas e com imensa aposta no sucesso dos pontas, especialmente Vinícius Júnior, em duelos individuais. Richarlison era mais acionado de costas para o gol rival, surgindo como apoio. Não é sua especialidade e, tecnicamente, esteve mal.
Montada a partir de um 3-3-4 com bola, a seleção tinha Alex Sandro junto aos zagueiros, com o trio de meias mais à frente. Vanderson abria campo na direita e Vinícius Júniro fazia o mesmo pela esquerda, com Richarlison e Estevão pelo centro. Mas era um time distante na hora de construir. O repertório ofensivo da seleção foi modesto, o que é natural para um trabalho recém-iniciado. O erro, a rigor, é viver novo recomeço a um ano da Copa do Mundo.
Ainda assim, o Brasil quase não permitiu chances claras ao Equador, mesmo quando o volume de jogo obrigou a seleção a passar boa parte do segundo tempo protegendo sua área. A recompensa foi o ponto que pode ajudar a definir a classificação para a Copa. E, numa análise um pouco mais fria, o jogo morno ajuda um país que acredita pouco em processos a compreender que raramente é possível construir um time em três dias.
