Com o tempo, é preciso que o italiano, de sensibilidade, percepção e experiência aguçadas, construa algo mais ambicioso do que passar 90 minutos sem sofrer gols do Equador Equador 0 x 0 Brasil | Melhores momentos | 15ª rodada | Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo 2026
Dar o mesmo nome ao que praticaram Espanha e França, à tarde, e Equador e Brasil, horas depois, soa injusto. Também não é exatamente correto com Carlo Ancelotti exigir mudanças profundas na Seleção depois de apenas três sessões de treinamentos com uma lista de convocados feita a muitas mãos, já que o italiano trabalhava no Real Madrid até a véspera de sua apresentação.
A insossa atuação no aguardado debut de Carletto revelou alguma evolução defensiva, especialmente por dentro, com boas atuações de Casemiro na proteção, e da dupla formada por Marquinhos e Alexsandro Ribeiro, a grande novidade, defendendo a área. O Brasil correu menos riscos. Ofensivamente, entretanto, as paupérrimas performances individuais do trio de ataque e o já crônico distanciamento entre eles e um meio-campo incapaz de criar minaram as possibilidades de vitória.
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Ancelotti observa disputa de bola em sua estreia pela Seleção
Reuters
Não é simples enfrentar o Equador fora de casa. Mesmo em seus melhores momentos, o Real Madrid de Ancelotti jamais se destacou por pressão intensa na marcação. Era um time organizado e letal a partir do momento em que roubava cada bola. Nos tapetes europeus, a bola saía da defesa para o ataque com muita velocidade e precisão. Em seu primeiro ato na Seleção, isso não pôde se repetir. Seja por causa do gramado, provável responsável por tantos erros de domínio de bola, seja pela impossibilidade de escalar Toni Kroos e Luka Modric no coração do time.
Por mais que Carletto tenha recebido tratamento de salvador da pátria de chuteiras desde que pisou no Galeão, não seria possível resolver problemas mais graves, como as laterais e o meio. Alex Sandro manteve o excelente desempenho do Flamengo, mas Vanderson desperdiçou ataques espetado como ponta-direita, num posicionamento simétrico ao de Vinicius Júnior do outro lado, e que permitia a Estêvão se mover por dentro, de forma similar ao que tem feito no Palmeiras.
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Bruno Guimarães tem imensa influência na evolução do Newcastle, mas passa a frequente sensação de não ser capaz de desacelerar quando o jogo pede, de prolongar posses de bola. Gerson, por sua vez, embora tenha feito bom primeiro tempo, esteve distante de regiões do campo que costumam extrair seu melhor futebol – mais adiantado e partindo da direita. Ainda assim, teve a melhor chance de gol do Brasil, mas trocou, inexplicavelmente, a finalização por um passe impreciso para Vinicius.
Conforta imaginar que Ancelotti possa começar a construir seu time e entender quais desenhos e propostas podem funcionar melhor com o farto leque de jogadores à disposição. Num primeiro momento, velhos conhecidos, como Casemiro e Richarlison, deram respostas muito diferentes. O estreante Alexsandro Ribeiro já se garantiu nas próximas listas. É preciso que o italiano, de sensibilidade, percepção e experiência aguçadas, construa algo mais ambicioso do que passar 90 minutos sem sofrer gols do Equador.
Desagrada, por outro lado, a constatação do abismo entre o que apresenta o Brasil e o delicioso embate entre espanhóis e franceses, na semifinal da Liga das Nações. O copo meio vazio apontará erros defensivos em demasia no 5 a 4, e os treinadores De La Fuente e Deschamps terão de dedicar, realmente, atenção a isso. Mas a coragem para atacar, aliada à disciplina, entrega e mobilidade, e a disposição em correr riscos, quase uma manifestação de respeito ao talento adversário, transformou as partidas de Stuttgart e Guayaquil em modalidades distintas.
