Documentos divulgados pela FIA em episódios envolvendo frenagem atrás do safety car explicam critérios adotados nos dois casos Jornalista Rodrigo França analisa vitória de Norris em caótico GP da Inglaterra de F1
Depois de ultrapassar o pole Max Verstappen pela liderança do GP da Inglaterra, Oscar Piastri parecia a meio caminho andado de vencer neste domingo. Mas o australiano foi punido com 10s por frear demais atrás do safety car, e a corrida caiu no colo de Lando Norris. Fato semelhante ocorreu no GP do Canadá com George Russell; o inglês, porém, saiu ileso de uma investigação após protestos da RBR.
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Oscar Piastri lidera o GP da Inglaterra até punição por frear demais atrás do safety car
Zak Mauger/LAT Images
Em ambas as situações, quem estava logo atrás do líder era Max Verstappen – que rodou logo após o episódio, caiu para décimo mas se recuperou cruzando a linha de chegada em quinto lugar. E a semelhança entre os dois episódios não lhe passou despercebida:
– Só fiquei sabendo depois da corrida que ele foi penalizado. Ninguém me contou durante a corrida. O fato é que esse tipo de situação já aconteceu comigo algumas vezes. Só acho estranho que, de repente, agora o Oscar seja o primeiro a receber 10 segundos por isso. Para os comissários de pista, sim (algo mudou de um episódio para o outro).
Chefe da RBR, Christian Horner também fez menção ao episódio no Circuito Gilles Villeneuve em Montreal:
– Não fiquei surpreso ao ver que ele (Piastri) levou uma punição. Isso era o que esperávamos. Talvez tenha sido mais surpreendente que George não tenha recebido uma punição em Montreal, para ser honesto com vocês. Mas é isso. Infelizmente, nossa corrida se desenrolou a partir desse ponto.
George Russell e Max Verstappen no GP do Canadá da F1 2025
Jared C. Tilton – Formula 1/Formula 1 via Getty Images
O lance envolvendo Piastri foi imediatamente anotado pelos comissários, que lhe impuseram 10s de acréscimo ao tempo de prova. O australiano permaneceu liderando a corrida – que contou com a intervenção do safety car por causa da forte chuva que caía na hora – até visitar os boxes na volta 44 e cumprir a sanção, cedendo a liderança a Norris. Ele chegou em segundo lugar.
– Aparentemente, não se pode mais frear atrás do Safety Car. Eu freei por cinco voltas antes disso e, mais uma vez, não vou falar muito porque vou me meter em problemas – reclamou Piastri.
A polêmica em Montreal
Na vitória de George Russell no GP do Canadá, a RBR protocolou um protesto contra o resultado, alegando que o piloto da Mercedes tivesse “freado desnecessariamente e de forma errática atrás do safety car” na penúltima volta da corrida.
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Na visão do time, o inglês feriu o Artigo 12.2.1m do Código Internacional do Esporte por tentar fazer com que Verstappen o ultrapassasse sob bandeira amarela. No entanto, os comissários rejeitaram o protesto, após horas de deliberação; Russell manteve sua vitória, chegando à frente do tetracampeão.
Mas, o que diferencia os dois episódios, na opinião dos comissários? O ge analisou os documentos emitidos pela Federação Internacional do Automobilismo (FIA) e também as circunstâncias da prova na ocasião. Vale lembrar que a punição de 10s está prevista nas diretrizes da entidade para o caso.
Na visão dos comissários, Russell freou menos que Piastri.
O documento divulgado após a sanção do piloto da McLaren no GP da Inglaterra revela que ele teve uma desaceleração mais brusca, indo de 218 km/h aproximadamente a menos de 60 km/h, e exercendo uma pressão de 59,2 psi sobre os freios. O valor é quase o dobro da pressão exercida por Russell na Áustria, de 30 psi.
FIA detalha nível de frenagem de George Russell e Oscar Piastri no Canadá e na Inglaterra
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Ao abordar a questão na punição de Oscar, os comissários utilizaram a expressão “brake hard”, que pode ser traduzida como “freou de forma intensa”.
A manobra de Piastri foi considerada errática e perigosa.
A FIA se considerou “satisfeita que o piloto do carro 63 (Russell) não pilotou de forma errática ao frear do jeito e no lugar que o fez”. Por outro lado, na visão dos comissários, Piastri acabou agindo de forma contrária – o que se comprovaria pelo fato de sua súbita redução de velocidade ter forçado uma reação imediata de Verstappen para evitar contato, bem como a maior proximidade física dos dois na pista.
O artigo 55.15 do Regulamento Esportivo da F1 determina que “para evitar a probabilidade de acidentes antes que o safety car retorne aos boxes, a partir do momento em que as luzes do carro forem apagadas, os pilotos devem prosseguir em um ritmo que não envolva aceleração ou frenagem erráticas, nem qualquer outra manobra que possa colocar em risco outros pilotos ou impedir o reinício”.
FIA considerou frenagem de Russell aceitável no Canadá; a de Piastri, porém, foi considerada errática
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Como a FIA aceita momentos periódicos de frenagem e aceleração – em um nível razoável -, a explicação dada pela Mercedes de que Russell estava tentando manter seus pneus aquecidos visando o recomeço da corrida sob bandeira verde foi aceita.
Outra evidência, segundo a entidade, é que Verstappen não apenas teve que frear junto com Piastri para não haver contato; o holandês também não conseguiu evitar ultrapassar a McLaren do rival, algo que ele conseguiu, em partes, evitar com Russell na Áustria – até certo ponto. Em seguida, o tetracampeão devolveu a posição.
Chuva forçou acionamento do safety car no GP da Inglaterra da F1 em 2025
Andrew Matthews/PA Images via Getty Images
O safety car no Canadá estava mais lento, segundo a Mercedes.
Um dos argumentos trazidos pela Mercedes em Montreal trata do fato de que Russell já estava, na ocasião, se queixando da lentidão do carro de segurança. O inglês chegou a acenar para o piloto do safety car, fato que a equipe alemã comprovou com a exibição de vídeos de bordo do carro 63. A FIA aceitou a explicação, não contestando a fala.
A frenagem de Piastri no trecho foi atípica.
FIA rejeita protesto da RBR no GP do Canadá; Mercedes argumenta que Max Verstappen freou de forma semelhante a George Russell na ocasião
FIA
Outro ponto levantado pela Mercedes ao levar aos comissários as telemetrias dos dois carros foi de que, em Montreal, Verstappen também apresentou padrões de frenagem semelhantes aos de Russell na reta entre as curvas 13 e 14 sob o safety car. O fato se diferencia do movimento de Piastri na reta entre as curvas 14 e 15, em Silverstone.
Histórico e chuva podem ter jogado contra Piastri
Choveu muto forte  ao longo do GP da Inglaterra, tornando os pneus intermediários a pedida por praticamente toda a corrida e ocasionando erros até dos pilotos mais experientes sob pista molhada – Max Verstappen, Lewis Hamilton, Charles Leclerc…
O spray d’água liberado pelos carros também comprometeu a visibilidade dos pilotos, o que aumentou o risco de acidentes na ocasião – e a responsabilidade do líder da corrida em manter um ritmo seguro atrás do safety car. Um deslize ou uma manobra errática poderiam ocasionar em batidas generalizadas, algo que não é incomum na F1.
Segunda batida do GP da Toscana tirou quatro pilotos da disputa
Imago/PA Images
Um dos episódios recentes e mais marcantes se deu no GP da Toscana, no Circuito de Mugello, em 2020. O líder Valtteri Bottas, então piloto Mercedes, teve pouco espaço disponível na pista para manter distância do carro de segurança e, ao mesmo tempo, defender-se de Lewis Hamilton.
Somado a isso, segundo relatos de alguns pilotos na ocasião, o safety car apagou suas luzes mais tarde, provocando confusão sobre quando ele deixaria a pista.
Como os pilotos se orientaram conforme o movimento do carro à frente, frearam e/ou aceleraram de forma inconsistente. Em consequência, Nicholas Latifi, Kevin Magnussen, Carlos Sainz e Antonio Giovinazzi bateram em um engavetamento provocado na reta principal e abandonaram.
Apesar de punição, Oscar Piastri chegou em segundo lugar no GP da Inglaterra da F1 em 2025
Bob Kupbens/Icon Sportswire via Getty Images
Ao comentar sobre o episódio após a prova, o CEO da McLaren, Zak Brown, não discordou do fator “chuva”. Mesmo afirmando que “na telemetria não pareceu tão ruim quanto na televisão”, o gestor minimizou o impacto da punição:
– Você pode acabar sendo punido assim a qualuqer momento, há um elemento de subjetividade aí. Sabe, você está tentando aquecer os pneus, está chovendo, (o safety car foi) chamado tarde… Foi por pouco.
Lando Norris comemora a vitória no GP da Inglaterra de F1
Bryn Lennon – Formula 1/Formula 1 via Getty Images
Piastri, por outro lado, não ficou nada feliz:
–  Aparentemente, não se pode mais frear atrás do Safety Car. Não vou falar muito, pois vou me meter em problemas. Eu freei por cinco voltas antes disso e, mais uma vez, não vou falar muito porque vou me meter em problemas – disse, acrescentando:
– Achei que a punição foi muito ruim, mas, de qualquer forma, estou feliz por termos um carro rápido, provei o que precisava provar e é decepcionante quando algo é tomado de você desse jeito, mas é assim que acontece. Eu pisei no freio, vi as luzes do Safety Car se apagarem, então não acelerei de novo, e Max me ultrapassou, o que foi um pouco estranho
